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Resistência

ONG VELAUMAR

A  região do Poço da Draga é muito forte quando o assunto é união. Comunidades vizinhas se aproximam e frequentam as programações e as ações desenvolvidas pela Organização não Governamental (ONG) Velaumar, uma entidade criada em 2004 por um grupo de moradores, que não conta com patrocínio financeiro externo, tanto público quanto privado. Na ONG é possível encontrar diversos serviços que são ofertados para a comunidade, tais como atendimentos médicos variados, consultoria jurídica, cursos, oficinas, eventos festivos, cafés da manhã, palestras e programas educativos. Alguns serviços da ONG são itinerantes, assim, outras comunidades de Fortaleza recebem sua visita, como a comunidade da Graviola, Moura Brasil, Barroso e Che Guevara por exemplo. “O intuito é atingir as comunidades que não tem acesso aos serviços e as políticas públicas, independente de comunidade A ou B ou de político A ou B. Nós queremos o melhor comunitário. Essa é a intenção” explica Marilac Lima, uma das presidentes da ONG.

 

 

 

 

 

 

A Velaumar se tornou uma espécie de porta voz dos moradores e, juntamente a comunidade, participam das denúncias e das reivindicações ao poder público perante os descasos com a região. “No final do mês de maio fizemos um movimento para chamar a atenção do poder público sobre o descaso com o poço da draga. Por exemplo, não temos uma creche que atenda a demanda da nossa região”, comentou Isabel Cristina, educadora social e também presidente da ONG. “Falta o básico, falta saneamento básico e a creche mais próxima daqui, na Tabajara, só comporta 40 crianças”, completa Marilac, também presidente da Velaumar.

 

Este evento se refere à comemoração dos 113 anos da comunidade Poço da Draga, ocorrido no dia 26 de maio. O Movimento ProPoço, em parceria com a ONG Velaumar, comemorou a data trazendo prestação de serviços sociais aos membros da comunidade, como a realização de exames odontológicos e emissão de documentos, além de atividades para as crianças e shows de humor com Lairtinho Brega e outros Djs.

 

A ONG também participa de atividades pertinentes à regularização da Zona Especial de Interesse Social (ZEIS). Nesta condição, também é possível observar a relação da ONG e da comunidade com a obra do Acquário Ceará, um empreendimento do Governo do Estado, que antes estava sob responsabilidade da Secretaria de Turismo do Estado (SETUR) e agora é da Secretaria da Infraestrutura (Seinfra).  

O medo de perderem seu espaço é constante, mas a luta pelo direito da terra se torna necessária. Marilac é uma referência de liderança comunitária no local e afirma que de lá ela não sai. "Como eu vou morar em outro canto se aqui é a minha casa? Aqui que eu vivi com a minha mãe. Quem vai me dar isso de novo? E a minha identidade que está aqui? Não  é questão de não ter para onde ir nem como se manter. Aqui é o meu lugar, onde eu nasci e onde eu quero morrer. As pessoas acham que dinheiro  é tudo. Para mim, tudo é a gente mesmo. As pessoas se ligaram tanto ao bem material que se esqueceram quem são. Tudo muda com amor", declara.

Conheça o trabalho da Velaumar no vídeo abaixo:

Placa com a história da ONG

 

 

O SARAU

O Sarau é talvez a festividade mais famosa da região do Poço da Draga. Em atividade já há cinco anos, o evento se transformou em uma tradição na região. “Surgiu quando a atriz e poetisa Joana Angélica deu início ao sarau no pavilhão, junto com a Associação dos Aposentados do Ceará. Ela tocou o projeto por umas três vezes e logo me chamou para ajudar, já que depois ela foi fazer mestrado em Portugal. Ela me pediu para eu dar continuidade ao projeto e foi assim que entrei”, explicou Rodrigo   BZ, músico e mediador do Sarau das Guardiãs da Memória.

 

O evento ocorre sempre na segunda quinta-feira de cada mês. No começo, os encontros se davam no pavilhão, mas logo ganharam uma nova sede. “Eu pensei ‘poxa, por que a gente não faz uma vez lá dentro da comunidade?’ e foi aí que a Dona Iolanda ofereceu a casa dela”. Com a chegada do Sarau dentro da comunidade, as pessoas começaram a abraçar a ideia. Cada encontro possui um tema, que vai desde alguma data festiva até assuntos relevantes. “As vezes tem muita gente, vem também gente de fora que eu                                  convido e é aberto para todos. Quando tem aniversário ou Natal, a gente vai para ONG

                                  fazer amigo secreto. É uma festa mesmo” completa Rodrigo.

 

                                      O Sarau começou com poesias, com o Rodrigo cuidando da parte musical e a dona                                        Iolanda conduzindo a poesia falada. “Sempre gostei dessa coisa de arte.  A mãe da

                                  Isabel [da ONG] me colocava para cantar e recitar poesia. Eu gosto  muito! Com o sarau

               eu consigo praticar mais” conta dona Iolanda, moradora do Poço da Draga desde 1971,

                                                   considerada a “madrinha do poço”.

                                                            Escute Dona Iolanda recitar "Filhos que saem de casa", de Bráulio

                                                                 Bessa:

 

Dona Iolanda_editado.png

POÇO SEM FRONTEIRAS

O Poço sem Fronteiras é um projeto da ONG Velaumar desenvolvido com o intuito de ajudar qualquer pessoa, não somente jovens, a se prepararem para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “O nome se chama Poço sem Fronteiras porque vem profissionais de todas as áreas dar orientação e aulas para qualquer pessoa que tiver interesse. Não queremos fechar somente com meninos daqui da comunidade” falou Isabel Cristina, educadora social e uma das presidentes da ONG. O projeto “Poço sem Fronteiras” convida moradores formados para contribuir com a preparação dos que farão a prova. “Temos jovens aqui formados em matemática e em letras pela UFC, e formados em Geografia pela UECE. Quem quer passar no ENEM precisa ter a consciência de que é possível” completa. Além de moradores formados, o projeto também recebe qualquer pessoa de fora que quiser contribuir com aulas e orientação. No ano passado o projeto conseguiu colocar seis pessoas em uma universidade pública, e Isabel revela que não recebem nenhum recurso.


 

 

Com tanta preocupação com os estudos e a formação dos seus jovens, a comunidade do Poço da Draga se orgulha em ver os moradores alcançando, com muita dificuldade, a conclusão de cursos universitários. Estes profissionais hoje, ou atuam na área, ou buscam especializações ou são concursados públicos. Entre os 36 moradores que cursaram o ensino superior, há Francisco Sérgio Rocha, geógrafo e também conselheiro das ZEIS. Ele tem um grupo que se chama “Expresso Poço”, que consiste em uma visita por todos os pontos da comunidade, onde ele explica a origem do poço e relata outras curiosidades.

"O expresso é uma atividade educativa, mas também de cunho socioantropológico. A atividade tem por finalidade criar uma interação entre a sociedade e a comunidade, já que somos segregados, e isso cria um estereótipo. O passeio tenta quebrar esse estereótipo, levando ao conhecimento de moradores. Isso gera um entusiasmo neles também, pois eles também participam. Há uma interação dos moradores com os visitantes. Eles se sentem entusiasmados e ficam cheios de si. É um resgate de identidade. O outro intuito é também ensinar e instruir os jovens para que eles tenham conhecimento histórico da região, para que levem esse conhecimento adiante ainda por muito tempo", explica Sérgio.

“A gente não tem recurso e todo o projeto é feito por meio de convites que fazemos a pessoas para virem dar aulas para os interessados. A gente tem conseguido. Os jovens começam em escolas públicas, mas aos poucos fazem as suas trajetórias”.

PROJETOS ESPORTIVOS

Educação nem sempre é dada por meio de lápis e livros, por isso a comunidade também utiliza dos esportes como uma forma de ensinar responsabilidade, companheirismo e disciplina aos jovens. Um projeto não muito pensado pela prefeitura disponibilizou apenas uma quadra próxima à ponte metálica. O espaço não recebe manutenção e hoje encontra-se depravado, sendo entregue aos moradores para que eles mesmos façam os cuidados. É dentro de ferrugens, piso rachado e redes rasgadas que a quadra é usada para algumas partidas de futebol nos finais de semana e local, também, de uma escolinha de futsal. Washington dos Santos, coordenador do projeto desafaba: 

Além da escolinha, também é possível encontrar grupos de capoeira que são orientados por Thiago da Silva há seis anos. Ele explica:

“Os encontros se dão nas segundas, quartas e sextas das 18h às 21h, sempre com o intuito de promover a paz e o diálogo entre a comunidade por meio do ensino inovador da capoeira. Eu peço aos meus alunos apenas bom comportamento nos treinos e boas notas na escola, basicamente” 

Os encontros se dão no pavilhão atlântico, sem nenhuma ajuda do governo. “Não temos apoio público nem privado. Quando eu comecei, não havia ninguém dando aula na comunidade. Porém, existem outras pessoas que já fizeram algo semelhante outrora e que ainda fazem” completa. Thiago ainda conta que arca sozinho com despesas, como fardamentos, instrumentos, lanches de vez em quando, xerox e literatura para os jovens.

“Desenvolvo a escolinha já há 27 anos, e sempre foi desenvolvida por mim, sem nenhum parceiro. Nunca olharam para nós! Vivemos de doações que eu peço, como chuteira e bola usada. Nossa maior dificuldade é ter um parceria que ajude e que banque, pois tudo vem de mim. Eu deixo de trabalhar às vezes para estar com os meus alunos e abro para qualquer um que esteja interessado em fazer parte. Eu só peço que elas passem de ano e respeitem o próximo”

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